[Des]esperando, paciente,
como lâmina rente ao fofo da face
que se risse rasgaria muito mais
o que o riso impreciso, incauto,
rasgasse.
[Des]esperando, paciente,
como debutante que olhasse descrente
com o punho cerrado, faca na mão tremente,
o bucho malemolente, revolvendo, rebolante
como se ali tivesse gente, filho de um pingo quente
que lhe sorrindo entrasse, saliente, coxa adentro
maldito filho d'um vento morno lá de atrás das moitas
que num passe de mágica com sua graça aflita
lhe desgraçasse.
[Des]esperando como o que mira no olho da gazela
e sabe que no boqueirão, onde não há testemunha
o dedo no gatilho ou o rastilho do chifre em riste,
para aqueles olhos (os dois bichos) exalando breu
não vale o creio-em-deus-pai, tampouco vai
resolver a mandinga negra, índia ou mourisca.
[Des]esperando a hora última
a medula inteira esticada num arco de promessa
maldizendo essa hora de bater a alma em revista.
É nessa nesga de espaço e tempo que se crispa
a verdade de duas bestas idênticas sob o céu:
em pêlo pleno, sem corda nem sela,
em perigo ou em fome,
é ela ou eu.
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