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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O CERCO



[Des]esperando, paciente, 

como lâmina rente ao fofo da face 

que se risse rasgaria muito mais 

o que o riso impreciso, incauto, 

rasgasse.


[Des]esperando, paciente,

como debutante que olhasse descrente

com o punho cerrado, faca na mão tremente,

o bucho malemolente, revolvendo, rebolante

como se ali tivesse gente, filho de um pingo quente

que lhe sorrindo entrasse, saliente, coxa adentro

maldito filho d'um vento morno lá de atrás das moitas

que num passe de mágica com sua graça aflita

lhe desgraçasse.


[Des]esperando como o que mira no olho da gazela

e sabe que no boqueirão, onde não há testemunha

o dedo no gatilho ou o rastilho do chifre em riste, 

para aqueles olhos (os dois bichos) exalando breu

não vale o creio-em-deus-pai, tampouco vai

resolver a mandinga negra, índia ou mourisca.


[Des]esperando a hora última

a medula inteira esticada num arco de promessa

maldizendo essa hora de bater a alma em revista.

É nessa nesga de espaço e tempo que se crispa 

a verdade de duas bestas idênticas sob o céu:

em pêlo pleno, sem corda nem sela,

em perigo ou em fome, 

é ela ou eu.

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