Desenho no ar uma parede.
Depois, um martelo. Talvez uma picareta.
Ataco minha parede imaginária com as precárias ferramentas.
Surge um buraco, que trato de chamar de janela.
Linda a janela, de frente para o mundo, veja só.
Do outro lado dela existe o mundo, o real.
Moças, montanhas, o mar... Ah, o mar!
E o tempo, que passa sem ameaçar.
O mundo todo ali, veja só!
Mas não o alcanço, o mundo.
Ele é real, e minha parede, de mentirinha.
Fico triste, num impasse. O real me assalta.
Está ali, mas não posso tocá-lo.
Criei uma parede, maldita.
Em minha sanha de criador, fiz também uma picareta.
Mas já não sei como usá-la. Tinha feito um buraco pequeno.
Apenas o suficiente para colar o rosto e ver a realidade.
O olho esquerdo sentindo a brisa do real, a cor do real.
Os peitinhos muito verdadeiros das debutantes que vão à praia.
Os passarinhos que piam cantos melhores que meus versos.
O universo dos trombadinhas e das celebridades.
As cidades pulsando, os carros passando.
Aquele olho colado na parede imaginária vendo tudo.
No ar, minha parede é firme, imensa, concreta.
Já não posso derrubá-la. A parede é insofismável.
Estou preso, encarcerado. Estou emparedado.
Já não me serve esta vontade transfigurada numa picareta.
Sou escritor. Tenho a poesia e o sentimento do mundo.
E na mão, apenas uma caneta.
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